Desde que José Pacheco Pereira escreveu, em Outubro do ano passado, no Público, que o Teatro Rivoli, no Porto, era frequentado por um "número escassíssimo de pessoas", que a afirmação ganhou a moldura de uma verdade irrefutável. Esse argumento foi, desde sempre, utilizado pelo presidente da Câmara, Rui Rio, para justificar a decisão de concessionar o equipamento municipal, tendo sido, posteriormente, corroborado na Imprensa, nomeadamente, por José Manuel Fernandes, director daquele diário.
No entanto, numa análise estatística do período temporal compreendido entre 2001 e 2005, através de documentos a que o JN teve acesso, constata-se que, anualmente, o Teatro nunca teve menos do que 126 mil espectadores. Ou seja, nesse ano, em 2002, a audiência média indica que houve 345 espectadores por dia. Em 2005, a média ascendeu quase aos 500 espectadores diários.
Na crónica intitulada "Rivolução", Pacheco Pereira insurgia-se contra a ocupação que um grupo de actores havia realizado no Rivoli para contestar a sua privatização, argumentando que os espectáculos do Plástico - a ocupação sucedeu na sequência de uma peça desta companhia - costumam ter, apenas, 30 pessoas na plateia. Aferindo os dados, volta a não ser possível confirmar a afirmação. Em Março de 2003, por exemplo, o Plástico apresentou a peça "XY", tendo obtido 461 espectadores em cinco sessões.
A leitura do programa apresentado no período referido não permite demonstrar os propalados baixos níveis de audiência, mas revela que entrega do Rivoli a um único produtor implica a perda da diversidade cultural que, até então, foi ali apresentada.
A dança contemporânea perde o palco. Em 2003, a coreografia "Quebra-Nozes", do Centro de Dança do Porto, vendeu, em dois dias, 1710 bilhetes. O Novo Circo, referência do Rivoli, perde também o espaço. A companhia francesa "Compagnie du Singulier" ganhou uma plateia de 426 espectadores. No jazz, Chick Corea, que recentemente esgotou o auditório da Casa da Música, esteve há quatro anos no Teatro Municipal. Sobraram dois lugares. O FIMP, Festival de Marionetas, superou os mil bilhetes vendidos.
Pacheco Pereira escreveu que antes do 25 de Abril "os espectáculos conheciam enchentes". Num auditório com lotação para cerca de 1500 lugares, que leitura merecem estes números?
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