julho 01, 2007

FutMedia: Os telejornais de caca que temos...

No resto do planeta, os telejornais são os primeiros a dar as últimas. Em Portugal, são os primeiros a estar nas últimas
Outro dia ‘The Economist’ perguntava na capa: “Quem matou os jornais?” No livro ‘The Vanishing Newspaper’, o autor diz que o jornal ainda respira mas está com os pés para a cova. E prognosticava o óbito: o último exemplar em papel do último jornal americano será lido em 2043. Disparate. Como revela o relatório da World Association of Newspapers (WAN), nos últimos cinco anos a circulação dos jornais não gratuitos cresceu 6% em todo o mundo, e a publicidade, 11,7 %.
É sintomático que Robert Murdoch esteja a comprar o ‘Wall Street Journal’. O rival dos jornais impressos são os telejornais. A internet? Ao contrário! Como disse o dono do ‘New York Times’: “Não sei se ainda teremos uma edição em papel dentro de cinco anos. E nem me ralo.” A net é um dos novos anabolizantes dos jornais (edições on-line), a par do hiperlocalismo (noticiário local) e dos colunistas carismáticos.
A TV é outra coisa. O povo rumina: para quê comprar e ler notícias, se me as lêem de borla? Mas em Portugal os jornais podem desanuviar. Deve ser o único país em que os telejornais, dia sim, dia também, abrem com notícias publicadas na imprensa (e, quando não o fazem, é só porque não citam a fonte).
Ou seja: factos de ontem, que os telejornais repetem ao longo do dia e da noite, sem actualizar uma vírgula. Pior: na manhã seguinte, quando o espectador (ainda com ramelas e hálito de enxofre) liga a TV, lá está a mesmíssima peça da véspera, num anacronismo grotesco: “O ministro esteve hoje à noite ” Hoje à noite? Às oito da manhã? Por favor.
O trunfo do telejornalismo – a mobilidade – é reduzido à indolência de um coala. E não existe um cânone de texto telejornalístico, onde cada palavra devia ser um lingote de ouro. As frases quilométricas parecem destinadas a provocar apoplexias nos desgraçados dos pivôs.
Claro que há os “directos”, a oportunidade de ouro para que os telejornais cavalguem os factos. Mas aí desponta um mero suporte humano de microfones, incapaz de descrever um acontecimento com princípio, meio e fim (ainda que não fosse por esta ordem). Bolas, ninguém lhes está a perguntar o sentido da vida, mas simplesmente que raio houve com Fulano ou Beltrano! Depois de gastarem um tsunami de saliva, a resposta implícita que recebemos é: “Passo.”
E, se não é indiscrição, há alguma lei da República segundo a qual todos os repórteres televisivos que fazem directos devam ser gagos? Aquela treta das quotas, talvez? No resto do planeta, os telejornais são os primeiros a dar as últimas. Em Portugal, são os primeiros a estar nas últimas.

Paulo Nogueira, jornalista, na coluna "Estação de Serviço" do Correio da Manhã

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