O número crescente de conferências de imprensa ou declarações sem direito a perguntas pelos jornalistas está a desagradar aos responsáveis de vários órgãos de comunicação social, que, no entanto, hesitam em tomar uma posição comum.
O sentimento de que os jornalistas estão a ser "manipulados" e "instrumentalizados", cabendo-lhes apenas o papel de "pé de microfone", desvirtuando a essência do jornalismo, é partilhado por vários responsáveis editoriais, que criticam a tendência.
A situação, cada vez mais frequente na área política, está também a preocupar o Sindicato dos Jornalistas, cujo Conselho Deontológico recém-eleito vai analisar o assunto na sua primeira reunião, marcada para terça-feira. "Não faz sentido ir a conferências de imprensa ou outros encontros buscar comunicados", disse o presidente do Conselho Deontológico, Orlando César.
A maioria dos responsáveis por órgãos de comunicação social revela descontentamento profundo em relação aos encontros com jornalistas sem direito a perguntas. Contudo, muito poucos demonstram vontade de se unir ou até de boicotar estas situações. Eduardo Dâmaso, director-adjunto do 'Correio da Manhã', sublinhou que a "ida a uma conferência de imprensa sem direito a perguntas é praticamente inútil", sendo aceitável apenas em "situações excepcionais".
O director do 'Público', José Manuel Fernandes, considera "legítimo" que os jornalistas sejam chamados para leituras de comunicados quando são informados de que não haverá lugar à colocação de perguntas. Sobre a hipótese de uma posição conjunta, o director diz ser "difícil", lembrando que "não houve consensos noutras situações".
Do lado de lá, Luís de Lemos, da agência de comunicação Cunha Vaz & Associados, disse que "há alturas em que, do ponto de vista estratégico, é importante que a declaração seja produzida de forma clara e que se esgote em si mesma", não havendo a possibilidade de perguntas. "A curiosidade dos jornalistas pode motivar outro comentário" do orador, fazendo-o ir além do pretendido, referiu.
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