P | Ainda a propósito de José Mourinho, empatar um jogo, como aconteceu no início deste mês e no dia seguinte abrir o jornal e vê-lo na primeira página do "Times" a piscar o olho não o faz pensar "sacana"?
R | Não, repare...
P | Só com essa foto, ele não transformou aquele resultado num melhor?
R | São duas questões fundamentais: há o mérito de empatar em Manchester e depois, para o Times, que é um jornal sedeado em Londres, ter de levar durante os últimos onze anos com nove títulos do Manchester também não foi fácil. É preciso ler as coisas, porque isto não é só futebol, também é vender jornais.
P | Já está outra vez a soar à FC Porto...
R | Não. As pessoas pensam que isto é conversa, mas não é. Eu não preciso que elas acreditem nisto, mas, se fingir que não é a realidade, estou a cometer um erro na minha vida. Amanhã, quando não for treinador de futebol, é-me completamente indiferente que o Times ou o Jornal de Notícias ou O JOGO vendam mais ou menos em comparação com os jornais de Lisboa, mas, enquanto treinador do FC Porto ou do Benfica, se ignorar estes factores, estou a ignorar questões fundamentais que rodeiam o sucesso da minha vida. Os ignorantes é que vivem sempre felizes, porque não se apercebem de nada do que se passa à volta deles.
P | Está a dizer que o Manchester tem um problema com a Imprensa?
R | Não, nenhum. Temos é um caminho, que não é alterado pelos interesses da Imprensa, que é uma coisa completamente diferente. Nós não ditamos regras para nenhum jornal ou rádio local, mas também é de bom tom as pessoas perceberem que não devem ser os jornais a ditar as regras dos clubes. E eu pergunto-lhe, em Portugal é sempre assim? Olhe que já trabalhei num clube, em Portugal, em que era necessário negociar. Eu não, mas um dirigente da altura preocupava-se muito em negociar os interesses entre o Record e A Bola. Eu achava que devíamos anunciar os jogadores quando os tínhamos para anunciar. Ele entendia que não. Hoje dava-se um à Bola, amanhã outro ao Record, a seguir um ao JOGO. Era uma política suicida, porque a curto prazo resulta; a médio e longo prazo, perdemos o respeito de todos. O que estou a tentar dizer é que um banco, uma companhia de seguros ou um clube têm o direito de ter uma política, uma gestão e decidir quais são os seus interesses, numa boa relação com a comunicação social, com o público, com os adeptos, porque precisamos de todos, mas não ao ponto de hipotecarmos os destinos do clube aos interesses que estão à volta. É uma patetice e não é tão incomum como isso no futebol português.