Os números não enganam. Todos os jogos dos "lobos", como é conhecida internacionalmente a selecção nacional, são minuciosamente analisados por Henrique Garcia, 31 anos, o homem que faz a contabilidade da equipa portuguesa de râguebi. E não estamos a falar de dinheiro ou de despesas da comitiva. Entre outros parâmetros, Henrique regista as placagens de cada jogador, a percentagem de alinhamentos conquistados, a eficácia do portador da bola e os erros cometidos. Para isso, conta com o fundamental auxílio do Tech XV, um software francês comprado pela Federação Portuguesa de Râguebi há quatro meses por 2500 euros.
Para aprender a mexer no programa, Henrique, que também é treinador nas camadas jovens nacionais, esteve três dias em formação com um técnico francês. "Mas mesmo hoje sinto que ainda estou a desenvolver as potencialidades deste instrumento", assegura. Há muito que a análise dos jogos em vídeo é uma ferramenta utilizada pelas melhores equipas em todo o mundo - Adam Leach, que está na equipa técnica nacional nesta competição, fez esse trabalho para a Austrália no Campeonato do Mundo de 1995 -, mas Portugal apenas agora chega à alta roda. Antes era Tomaz Morais quem acumulava essa função, sem qualquer apoio tecnológico.
O que analisa então Henrique? "A equipa técnica define objectivos para o jogo, em relação, por exemplo, à percentagem de eficácia na formação ordenada e alinhamento, as penalidades cometidas, a eficácia nos pontapés de saída - se ficamos a jogar no meio campo adversário - e eu analiso se cumprimos o estabelecido. Depois analiso individualmente os jogadores: eficácia com a bola na mão; apoio ao portador da bola; placagens; tentativas de roubar a bola ao adversário; se avançou no terreno; erros; e ensaios."
Ou seja, durante os jogos ele está na bancada com um palmtop - que veio com o Tech XV e está sincronizado com o software - na mão, onde vai apontando as principais ocorrências do jogo - sucesso das formações ordenadas e alinhamentos, eficácia dos pontapés de saída, penalidades cometidas e perdas de bola - informação que vai ser utilizada por Tomaz Morais ao intervalo. Ao mesmo tempo, liga o computador ao cabo da televisão em que está a fazer a transmissão do jogo e converte as imagens para programa associando-as à informação do palmtop. Depois, no dia seguinte, com mais tranquilidade, poderá ver novamente a partida no computador e registar todos os outros parâmetros. Um trabalho de cerca de três horas. "Se tudo correr bem e não houver imprevistos", acrescenta ele.
As estatísticas que Henrique Garcia recolhe são apresentadas numa reunião nos dias posteriores ao embate. Os jogadores nem sempre aceitam a dureza dos números: "Alguns vêm pedir-me para ver algumas situações em que tenham falhado e por vezes discordam da minha interpretação. Mas a grande vantagem deste programa é que todos os números estão associados a uma imagem. Basta clicar nas placagens do jogador que elas aparecem, ou nas formações ordenadas da equipa para que o treinador de avançados possa analisar essas acções."
Além do trabalho de casa, Henrique está incumbido ainda de espiar o adversário: "Gravamos sempre dois jogos - para a Roménia foram os da Escócia e Itália - e analiso os seus pontos fortes e fracos nos pontapés de saída, faço um DVD sobre a sua formação ordenada e alinhamento e registo as suas jogadas a partir destas fase." No caso do próximo adversário, esta investigação será apresentada amanhã quando se analisar os jogadores da equipa romena, com quem Portugal joga na terça-feira.
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