Há uns bons meses, através do famoso "60 Minutes" difundido entre nós pela SIC Notícias, fiquei a conhecer o fantástico projecto "One Laptop per Child" (http://laptop.org/index.pt_BR.html), dinamizado pelo guru da era digital, Nicholas Negroponte. O seu feito foi o de, através de uma fundação sem fins lucrativos, conseguir criar um computador portátil com o preço de 100 dólares destinado a ser distribuído pelas crianças de países do terceiro mundo, com características inacreditáveis em termos de qualidade para um produto "low cost" que faria corar de vergonha muitas das máquinas que compramos por mil e mais euros. A filosofia de base residia na difusão da educação e informação como arma para combater a pobreza mesmo onde as crianças se debatem com dificuldades em áreas tão básicas como a alimentação e higiene.
Logo na altura, também, fiquei a saber da tenaz estratégia da Intel para esvaziar o projecto OLPC, que recorre a processadores da concorrente AMD. Primeiro opondo-se, depois aliando-se, de seguida afastando-se. Sobretudo procurando saturar os "mercados" com o seu Intel Classmate PC (http://www.classmatepc.com), destinado aos mesmos alvos genéricos e utilizando todas as armas do seu império comercial para convencer os governantes dessas nações terceiro-mundistas a não abraçarem o projecto OLPC, recorrendo mesmo a um verdadeiro "dumping", vendendo os aparelhos abaixo dos custos de produção, o que levou Negroponte a afirmar que "a Intel devia ter vergonha de si própria".
O que não esperava, sinceramente, era um dia ver o Governo de Portugal inflamar a propaganda sobre um suposto novo computador produzido em Portugal, pela nossa "Tsunami" em parceria com a Intel que, quanto muito, será uma versão europeia do Classmate. O simples facto do nosso país ter sido o escolhido para a introdução do tal "Magalhães" diz tudo sobre em que patamar de desenvolvimento a Intel nos coloca. O Plano Tecnológico dá para tudo, desde que José Sócrates possa abrir mais um "Jornal da Tarde" da RTP no que Pacheco Pereira qualificaria como mais um "Momento Chávez", mas o presidente da empresa norte-americana, Craig Barret, não escondeu o jogo e falou em "clientes" e "mercados", sendo aviltante o choque entre o seu economicismo e o idealismo de Negroponte.
Não tendo solução a ignorância da maioria dos jornalistas, que se limitam a debitar "press releases" como se fossem papagaios, resta-nos esperar que a difusão do "Magalhães" (quanto vai demorar a sair a versão "Magellan"?) por preços até 50 euros obrigue os computadores convencionais a baixarem drasticamente de preço sem ser necessário recorrer aos truques dos 150 euros do "E-Escola" com escravatura por 3 anos a redes de internet móvel. Seguem-se dois vídeos para que conheçam melhor o "One Laptop per Child", esse sim pioneiro e merecedor da nossa admiração.