outubro 20, 2009

Santa Casa continua a preparar metodicamente a teia para defender o seu monopólio atacando o jogo online com estudos comprados

O número de jogadores dependentes está a aumentar em Portugal. Os valores não são alarmantes, sendo até um pouco inferiores à média europeia, mas indicam que já há no país cerca de 16 mil pessoas nessa situação. A maior preocupação para os autores de um estudo ontem divulgado a pedido da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa prende-se com o facto de os viciados serem cada vez mais novos, o que no futuro pode fazer disparar os valores e aumentar consequências sociais tão graves como a delinquência, o divórcio ou o suicídio.
No estudo desenvolvido, entre 2005 e 2007, por uma equipa da Universidade Católica de Lisboa, foi possível apurar que há 0,2 por cento dos portugueses que são dependentes do jogo. Essa dependência, segundo disse ontem o coordenador, Henrique Lopes, verifica-se, principalmente, nos jogos acedidos pela Internet e nos jogos de cartas. Uma conclusão que, de resto, veio dar motivos de satisfação à Santa Casa, que recentemente viu o Tribunal Europeu dar-lhe razão na acção que interpusera contra a empresa austríaca de apostas Bwin.
"O jogador dependente português, ao contrário do que sucedia há anos, já não é exclusivamente o homem com mais de 40 anos, com hábitos nocturnos, de consumo de tabaco e de álcool", adiantou Henrique Lopes, explicando depois que, a julgar pelos dados recolhidos após centenas de entrevistas telefónicas, existe agora uma percentagem muito elevada de jogadores (de risco e dependentes) cuja idade oscila entre 18 e 40 anos.
Por género, quase não existem diferenças entre os jogadores considerados de risco, sendo que as mulheres são, neste caso, mais dois por cento do que os homens. No entanto, apesar das mulheres serem classificadas de maior risco, são os homens os que apresentam maior dependência - 79 por cento contra 21 por cento. Uma outra das conclusões do estudo é a de que os dependentes do jogo quase nunca reconhecem essa mesma dependência. Só a título de exemplo basta referir que, entre os cerca de 40 mil jogadores de risco do país, há 68 por cento que admitem problemas com o jogo a dinheiro, mas, por outro lado, dos 16 mil considerados dependentes, apenas 20 por cento reconhecem esse problema.
Ressalvando o facto de nem todas as respostas às entrevistas poderem ser totalmente fiáveis, Henriques Lopes lembrou depois que entre 476 indivíduos entrevistados menos de um por cento dos que são considerados jogadores de risco recorreram aos préstimos de agiotas (actuação criminal), enquanto que entre os jogadores dependentes essa percentagem atinge quase os 18 por cento. Significativo é ainda o facto de entre o primeiro grupo de jogadores apenas um por cento já ter vendido património familiar, enquanto que a mesma actuação já foi praticada por 23 por cento dos que não se libertam do hábito do jogo.
O estudo apresenta ainda a particularidade de estabelecer conexões entre diversos hábitos. Assim, fica a saber-se que enquanto os fumadores são cerca de 15 por cento dos portugueses, os que fumam no grupo dos jogadores dependentes são 33 por cento do total. Quanto à dependência de bebidas alcoólicas a mesma é de um por cento no país e de 17 por cento entre os que se reconhecem como dependentes do jogo. A aposta nacional para prevenir problemas sociais decorrentes da dependência do jogo passará, em breve, pelo levantamento estatístico entre os mais jovens. Ontem, perante representantes de diversas instituições estrangeiras, Henrique Lopes disse que no futuro se procurará saber quantos menores até aos 12 anos já jogam regularmente online.

NOTA EDITORIAL: A Santa Casa da Misericórdia continua, de forma lenta e metódica, a preparar a teia para defender o seu monopólio agitando o espantalho do risco do jogo online. Onde, infelizmente, o poker vai continuar embrulhado. Os números são evidentes: em Portugal os alegados problemas de ludopatia são inferiores à média europeia e em nenhum momento é sugerido que os Casinos sejam encerrados. Mas não tardará até que alguém sugira a limitação do acesso ao jogo online, a exemplo do que já sucedeu por outras paragens. Infelizmente, é rabo escondido com o gato de fora. Ainda por cima, baseado em estudos pagos por uma parte interessada e que, tendo decorrido entre 2005 e 2007, estão completamente desenquadrados do "boom" ocorrido com o poker, só para dar este exemplo. É este o nível de fiabilidade, mas também já sabemos que a maior parte dos jornalistas que vão fazer estes serviços, não só possuem pouca bagagem para a realização de uma reflexão crítica, como preferem limitar-se a transcrever os dados que lhes são transmitidos para poderem sair mais cedo e ir jantar descansados. Um pouco de seriedade, de todas as partes envolvidas na propagação mediática destes "recados", não faria mal a ninguém.

4 comentários:

Tacuara disse...

Já mete nojo este ataque ao poker. Ainda hoje levei nas orelhas do meu pai por causa dos cabrões dos vendidos da Católica que fizeram esta merda de estudo

E o vicio, e o jogo...esta Santa Casa da Misericordia é ridicula!

Unknown disse...

acredita, não tem assunto eu já disse mostrem os rankings, futpoker é a prova viva dok é o poker e n é vicio nem sorte senao n eram smp os mesmos a ganhar algum

Mind_Wrecker disse...

concordo scorpio.....o poker é um desporto e não um jogo de maus habitos

Lusitanea disse...

Bom, a verdade é que o jogo, tradicionalmente e há muitos anos, é visto como uma psicopatia social, raramente como ócio/lazer ou como uma componente de sociabilidade.
É transmitida, entre muitas outras, a ideia dos jogadores gastarem tudo, o que têm e o que não têm, até de venderem as próprias mulheres (algumas acredito que foram bem vendidas ;))
Não me vou esticar muito com esta temática que daria pano para mangas, dado que há muitas vertentes a analisar.

O que gostava, de momento, de dizer, e especialmente aos mais jovens, é que o jogo é, efectivamente, viciante! e muitas vezes não nos damos conta de sintomas de alguma 'patia' (lembrei-me agora de um post fascinante, penso que do Beto, em que todos nos fartámos de rir; mas o facto é que muitos de nós nos revemos nalgumas dessas imagens). Muitos exemplos se poderiam dar destes comportamentos e atitudes...

Todos conhecemos pessoal que passa horas e horas e dias a jogar, não conhecemos? Até aqui da comunidade, verdad?
Se calhar, também eu próprio, mea culpa, ocupo demasiadas horas do meu escasso tempo a jogar, mas a minha pseudo-vantagem é que a minha idade talvez me permita diagnosticar melhor os 'sintomas' e tentar colocar as coisas no correspondente patamar das minhas prioridades de vida, que são outras, não esta!
Pela primeira vez fico engasgado com um comment meu pois haveria páginas e páginas que se poderiam aqui dissertar, mas foi só uma cagagésima abordagem e escolhi esta com um vincado propósito!...

É preciso ter cuidado e muito juízo!!!