abril 02, 2007

Jeff Jarvis: Jornalistas e cidadãos devem trabalhar em rede

Os jornalistas e os cidadãos comuns devem trabalhar em conjunto, formando redes que permitam expandir as notícias, disse à Lusa Jeff Jarvis, professor de Jornalismo na Universidade de Nova Iorque. "Temos de reconhecer que qualquer pessoa pode ser jornalista", afirmou Jeff Jarvis, à margem do 8º Simpósio Internacional de Jornalismo Online, organizado pela Universidade do Texas, a decorrer em Austin, nos Estados Unidos.
Jarvis referiu que deixou de falar em "jornalismo de cidadãos" porque reconheceu que "talvez seja um mau termo" para definir o que os cidadãos estão a fazer aproveitando as facilidades de registo e publicação permitidas pelas novas tecnologias e pelos novos media. Em alternativa, propôs que se faça "jornalismo em rede", juntando o melhor que os jornalistas e os cidadãos comuns possam dar em favor de um novo jornalismo, mais vasto e mais aberto do que o que dominou até ao final do século XX.
"Não é uma guerra entre nós, os jornalistas profissionais, e eles, os cidadãos. E expandir as notícias. Estamos a viver um momento magnífico e excitante para se ser jornalista, porque o jornalismo está a mudar", frisou o director do programa de jornalismo interactivo da "City University of New York".
Jeff Jarvis salientou que há actualmente "toda uma série de novas oportunidades de recolher e partilhar notícias de maneiras diferentes", usando ferramentas como os telemóveis das novas gerações e as câmaras de vídeo digitais. Paralelamente, defendeu, é agora possível ser mais autónomo, utilizando as ferramentas da Internet que possibilitam a auto-edição, como os blogues.
"Nos velhos tempos, tínhamos que passar três anos como repórteres, quatro anos como 'copy-desk' e seis anos a fazer mais não sei o que para chegarmos a editores. Esses dias acabaram", frisou.
Para o autor do blogue Buzz Machine, um dos mais lidos sobre media, o "jornalismo em rede" tem de ser feito "nos dois sentidos", com uma participação activa dos cidadãos que querem colaborar no processo noticioso, através de fotografias, vídeos, textos ou de informações que funcionem como pistas para investigação jornalística.


Contribuição de todos
"Como diz Dan Gillmor [autor do livro "Nós, os Media"], o público sabe mais do que os jornalistas. A verdadeira interactividade é como uma parceria. Alguns querem jazer jornalismo, outros não, mas todos querem contribuir. O nosso desafio é juntar todos, e saber como organizar tudo isto", afirmou.
Jeff Jarvis salientou que já há muitas experiências bem sucedidas de equipas mistas, reunindo jornalistas profissionais e amadores (algumas das quais foram apresentadas no simpósio de Austin), mas este novo cenário não deixa de ser polémico.
"Há uma grande controvérsia nos Estados Unidos a propósito do chamado 'jornalismo de cidadãos'. Há dois problemas: Quem é que faz jornalismo? São os jornalistas, não é a audiência. O segundo problema é legal. O cidadão-jornalista e o jornalista profissional não têm os mesmos direitos", afirmou.
Contudo, para Jarvis, "não é tão importante como isso saber quem faz jornalismo", mas sim se esse jornalismo é melhor e mais credível, dado que é uma actividade que deixou de ser um exclusivo dos profissionais.

"Mais longe, mais perto, mais depressa"
O professor universitário explicou que considera uma "expansão" do jornalismo o que a revolução digital está a permitir, dado que as notícias agora podem chegar, simultaneamente, mais longe, mais perto, mais depressa, com mais fontes de informação e através de novas formas de partilha.
"Devemos repensar o que é o jornalismo", disse, defendendo uma prática mais consentânea com a realidade actual, de difusão instantânea de informação por múltiplos meios. Na opinião de Jeff Jarvis, um site noticioso "não precisa de duplicar o que o outro faz", mas sim apostar em histórias próprias, marcando a diferença. "É uma nova arquitectura das notícias. Faz o que fazes melhor e 'linka' [faz uma hiperligação] para o resto", afirmou.

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