maio 12, 2007

Devemos esforçar-nos por dominar a língua...

O presidente do Sindicato dos Jornalistas, Alfredo Maia, considera que os profissionais da Imprensa devem "esforçar-se por dominar a Língua" e diversificar a linguagem, sem prejuízo de elaborarem notícias claras e concisas para que possam ser amplamente compreendidas.
Respondendo às críticas de que os jornalistas são co-responsáveis pelo uso simples e redutor da Língua Portuguesa, Alfredo Maia admite que os profissionais da comunicação social "optam por repetir as mesmas expressões", pressionados pelo ritmo frenético dos acontecimentos que os impedem de se esmerar na escrita.
"Isso é, de facto, empobrecedor", lamenta, ressalvando que não se devem "generalizar" os casos, já que, na sua opinião, há trabalhos jornalísticos "de uma enorme qualidade e riqueza" linguísticas.
O grande dilema dos jornalistas, segundo Alfredo Maia, é que, se não forem claros e concisos, dificilmente serão entendidos pelos seus leitores e ouvintes.
"A necessidade de concisão e simplicidade visa assegurar que a mensagem chega à generalidade dos cidadãos. É que a comunicação de massas destina-se a um público muito heterogéneo", justifica.
A "convicção" de que a maioria da população não possui "conhecimentos suficientes para descodificar" as prosas jornalísticas não deve ser impeditiva, de acordo com Alfredo Maia, para os jornalistas, enquanto promotores da Língua e da Cultura, transmitirem "progressivamente" termos que "não são habituais" à opinião pública.
"Sempre que possível, devemos introduzir variedade de expressões [nos trabalhos jornalísticos]", frisa, apelando, nestas situações, ao bom senso.
"Escrever um texto muito bem composto literariamente tornar-se-ia incompreensível para uma parte significativa" do público, insiste.
Para o presidente do Sindicato dos Jornalistas, o principal responsável pelo empobrecimento do uso da Língua em Portugal é a falta de hábitos de leitura, que deveriam ser fomentados em casa e na escola desde a infância.
"Se os cidadãos, desde pequeninos, convivessem com os livros e com a leitura, os problemas [baixos níveis de literacia] não se colocariam", sustenta.
Segundo Alfredo Maia, a "leitura militante" tem também que ser encarada como um desígnio "cívico" do jornalista, que "deve ter uma Cultura acima da média" e "cultivar a Língua, a sua ferramenta essencial" de trabalho.
Confrontado com as críticas de que os jornalistas possuem actualmente um défice de Cultura, o também repórter do Jornal de Notícias responde: "Há um pouco de tudo".
Maria Lúcia Lepecki, professora do Departamento de Literaturas Românicas da Faculdade de Letras de Lisboa, defende que "a comunicação social tem uma importância absoluta no enriquecimento do léxico", salientando que há bons e maus jornalistas no domínio da Língua.
"Há excelentes jornalistas em Portugal que escrevem de maneira primorosa, com pertinência léxica e elegância sintáctica. Lê-los também é fundamental, não podemos passar sem eles", sublinha.
Mas, ressalva, há também jornalistas "com uma carência vocabular extraordinária e com um desconhecimento assustador da própria gramática da Língua", pelo que seriam necessárias "acções regulares de formação/reciclagem".

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